Como a geração Z migra do Facebook para redes sociais como
TikTok e Instagram, e entenda a importância da educação midiática para preparar
jovens a navegar com senso crítico e segurança no mundo digital, combatendo a
desinformação
O Facebook completou 21 anos, mas tem perdido cada vez mais espaço entre os jovens dessa idade. A geração Z — grupo que reúne nascidos aproximadamente entre 1995 e 2010, tem migrado em massa para redes sociais como TikTok, YouTube e Instagram, que privilegiam conteúdos visuais, dinâmicos e vídeos em formatos curtos.
Dados recentes da ExpressVPN, empresa que pesquisas sobre
tendências de uso da internet e comportamento digital, indicam que o uso ativo
do Facebook entre jovens de 18 a 24 anos caiu mais de 40% nos últimos cinco
anos, enquanto TikTok e Instagram cresceram mais de 50% na mesma faixa etária.
Diante desse cenário, a educação midiática se torna ainda
mais importante para preparar os jovens a navegar com senso crítico e segurança
no vasto ecossistema digital, marcado por uma avalanche de informações,
notícias falsas e manipulações. Essa foi a mensagem central da palestra de
Brittani Kollar, diretora adjunta do MediaWise, programa do Instituto Poynter,
dos Estados Unidos, no segundo dia do 3º Encontro Internacional de Educação
Midiática, realizado em Brasília (DF) pelo Instituto Palavra
Aberta.
“A geração Z não está no Facebook, mas no TikTok, no
YouTube, no Instagram”, destacou Brittani, ressaltando a importância de
compreender o comportamento de usuários online para que as estratégias de
educação midiática sejam eficazes. Segundo ela, “cada público exige uma
abordagem diferente, e isso começa por encontrar os jovens onde eles realmente
estão.”
Jovens protagonistas
Desde 2019, o MediaWise mantém uma rede de verificação de
fatos comandada por adolescentes. Eles escolhem pautas, escrevem roteiros,
produzem e publicam vídeos que orientam seus pares sobre como identificar
notícias falsas. O objetivo é promover a alfabetização midiática e combater a
desinformação.
Brittani destaca que essa abordagem é mais eficaz para
engajar os jovens: “Ouvimos muito os adultos dizendo o que fazer, mas quando a
mensagem vem dos próprios jovens, eles realmente prestam atenção.” Ela citou
exemplos de vídeos que abordam desde análise crítica de fontes até a
desmistificação de montagens manipuladas, como o caso de um jovem injustamente
acusado em uma edição manipulada.
O programa oferece uma série de recursos educacionais
gratuitos, incluindo cursos online, vídeos e materiais para escolas e famílias.
Currículo flexível para adolescentes
Para ampliar o alcance da educação midiática, o MediaWise
lançou em 2024, em parceria com Google e YouTube, o currículo Hit Pause, voltado para adolescentes entre 13 e 17
anos. O programa traz dez planos de aula flexíveis que podem ser
aplicados em formatos curtos ou mais longos, adaptando-se às necessidades das
escolas.
Testes realizados em 15 escolas do Reino Unido, com 1,2 mil
estudantes, mostraram resultados promissores: após a primeira aula, a
capacidade para identificar desinformação aumentou em até 13%, e a habilidade
de localizar fontes primárias cresceu entre 89% e 100%. Professores
qualificaram o material como “relevante” e “prático”, enquanto alunos relataram
maior reflexão antes de compartilhar informações.
Brittani ressaltou a preocupação com a diversidade cultural
no desenvolvimento do currículo: “Queremos que cada jovem seja representado em
sua língua materna, porque a luta contra a desinformação é global e diversa.”
Educação midiática para todas as idades
A alfabetização midiática, segundo Brittani, precisa
alcançar públicos variados. Para isso, o MediaWise criou o programa MediaWise
Idosos, focado em adultos mais vulneráveis à desinformação, especialmente
durante a pandemia.
Dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)
Contínua 2023 indicam que o acesso à internet entre brasileiros com 60 anos ou
mais subiu de 24,7% em 2016 para 66% em 2023. Contudo, muitos idosos ainda
enfrentam dificuldades para usar serviços digitais essenciais.
O fenômeno do alfabetismo digital, inclusive, também passou
a ser observado no Brasil pelo Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional),
estudo que mede os níveis de alfabetismo funcional – ou seja, quando a pessoa
sabe ler e escrever palavras simples, mas não consegue compreender, interpretar
ou aplicar essas informações nas situações cotidianas.
“Educação midiática não é só para crianças, é para todos.
Precisamos garantir que os mais velhos também tenham acesso, autonomia e
segurança para usar a tecnologia”, afirma Brittani. O programa aposta em
parcerias com influenciadores e líderes comunitários para promover a
alfabetização digital de forma colaborativa.
Desafios e o futuro da educação midiática
Brittani alertou para o ritmo acelerado das mudanças no
ambiente digital, que exigem constante inovação nas estratégias de educação
midiática. “Sem inovação, você perde o público”, afirmou, destacando que o
MediaWise trabalha com mentalidade de startup, sempre adaptando conteúdos para
as plataformas e linguagens em constante evolução.
Ela também manifestou preocupação com o aumento da
desinformação, principalmente após a decisão da Meta de encerrar parcerias com
verificadores externos, o que pode comprometer a confiança dos usuários.
“Juntos, somos mais fortes, mais resilientes e podemos
garantir que todos tenham acesso a uma educação midiática de qualidade”,
concluiu Brittani.
Como combater a desinformação em períodos eleitorais?
Durante a transmissão online, um participante perguntou:
“Com o processo eleitoral tumultuado nos Estados Unidos e as eleições previstas
para o próximo ano no Brasil, quais lições você poderia compartilhar para o
combate à desinformação em momentos como esses?”
Brittani Kollar respondeu com base na experiência das
eleições dos Estados Unidos: “A minha principal dica é começar agora, com
educação midiática. É fundamental continuar investindo e avançando nessa área.
A desinformação se espalha muito mais rápido do que a checagem de fatos, como
vimos nos Estados Unidos, com muitas informações falsas circulando.”
Ela acrescentou que “o ideal é estar à frente do problema,
capacitando as pessoas desde já com as ferramentas e habilidades necessárias
para identificar notícias falsas. Sei que pode parecer difícil, que as pessoas
tentam, mas com o empoderamento certo, elas aprendem a entender e a filtrar
melhor a informação, reduzindo a disseminação da desinformação.”
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